Aventura, lendas, mistério, sedução. Tudo isso e muito mais, creio eu, pode traduzir uma viagem à ilha de Rapa Nui, perdida no meio do Oceano Pacífico, entre a América do Sul e a Oceania.
Ainda não estive por lá, mas conheço quem já foi. E é exatamente para contar essa experiência que convidei meu amigo e leitor Sérgio Cavalcanti para colaborar com o Andarilho, relatando pra gente como foi. E quer saber? Ele me deixou com muita vontade de também baixar por lá.
Curioso? Pois vamos deixar de muito papo e embarcar com ele nessa viagem. O texto está delicioso e as fotos de babar. Vamos lá?
O Umbigo do Mundo
Quando o lendário rei navegador Hotu Matu’a aportou nas areias brancas da praia de Anakena, por volta do século X, chamou aquela pequena ilha perdida na vastidão do Pacífico Sul de Te Pito o Te Henúa, o “Umbigo do Mundo”, dando a ela também o nome de Rapa Nui (Ilha Grande).
Iniciava ali uma história cheia de mistérios e maravilhas. Cerca de 800 anos depois, num domingo de Páscoa, um explorador holandês, Jacob Roggeveen, “redescobriu” a ilha e seus habitantes, dando a ela o nome pelo qual ela passaria a ser conhecida em todo o mundo: a Ilha da Páscoa.
Hoje, ela pertence ao Chile. O acesso se faz principalmente por avião – um vôo de pouco mais de 5 horas desde Santiago. Seu aeroporto, o Mataveri, possui uma das maiores pistas de pouso do mundo, capaz de receber o pouso de um dos antigos ônibus espaciais americanos.
Gigantescas estátuas de pedra
Uma desproporção que traduz bem o ‘espírito’ da ilha, famosa por suas gigantescas estátuas de pedra, os “moai”, obras colossais esculpidas a partir da canteira de um dos três vulcões do lugar, e erguidas sobre plataformas chamadas de “ahu”. Estima-se que haja mais de 800 moais (erguidos ou tombados, inteiros ou semi-acabados) contando-se nesse número alguns deles espalhados por museus mundo afora.

Esses titãs megalíticos inspiraram, e ainda inspiram, teorias, especulações e teses sobre seu significado e sua forma de construção. Seriam divindades? Seriam representações dos antigos ‘deuses’ de Rapa Nui, que o ufólogo Erich von Daniken reputava serem visitantes extraterrestres ? Seriam retratos dos antigos governantes e bravos guerreiros da ilha? A última hipótese parece a mais sensata e é apoiada pelo consenso entre os arqueólogos.
Mais provavelmente, os moai representam os membros célebres dos vários clãs e tribos originais da ilha, erguidos como protetores do pequeno mundo dos rapa nui (o termo também designa seu povo original e sua língua, uma variante do tronco polinésio).
Os “moai” estão em toda parte, espalhando-se em ahus ao longo da linha da costa, todos, com exceção de sete deles, de costas para o mar. Os excepcionais sete moai que miram as águas compõem o Ahu Akivi, o mais misterioso de todos por ser o único que se situa no interior da ilha. A lenda diz que eles representam os exploradores que o rei Hotu Matu’a mandou antes de sua própria chegada.

Praias
O maior ahu, porém, é o Tongariki, com seus 15 moai, próximo ao vulcão Rano Kau. Além desses, há também o ahu Nau Nau, com seus sete moais (os de traços mais bonitos), situado numa das duas praias próprias para banho da ilha: Anakena, local de desembarque do lendário rei.
A outra é a vizinha e menor praia de Ovahe. Além dos ahus e moais, o circuito arqueológico se completa com o complexo do Orongo, lugar onde se celebrava no passado o ritual do homem-pássaro, uma competição entre os mais bravos guerreiros representantes dos clãs da ilha.
Onde ficar e o que fazer
A capital, e sua única povoação, é a Vila de Hanga Roa. Lá se localizam a maioria das pousadas e hotéis, o aeroporto, bares, restaurantes e demais comodidades para os visitantes. Os preços variam muito, dependendo do nível de exigência do turista. Um pouco mais afastados da vila, para quem quer mais conforto e isolamento, há o Hotel Altiplanico e o recém-inaugurado Hotel Explora, ambos numa faixa de preço superior aos demais.

No quesito alimentação dá-se o mesmo: há lugares para todos os gostos e orçamentos. Os maiores restaurantes, como o Au Bout Du Monde, oferecem exibições de dança e música típica rapa nui, cujo ingresso pode ou não incluir o jantar. Os hotéis têm as datas, horários e preços desses shows.

Dentro de Hanga Roa, formada por poucas ruas, pode-se andar calmamente a pé, apreciando as várias lojinhas de artesanato local, os cafés, os ahus e moais da vila.

O pôr-do-sol costuma ser um espetáculo à parte na área do Ahu Tahai. Os imensos precipícios da parte norte da ilha, com o mar azul-turquesa logo abaixo, são também dignos de visita e momentos de isolamento reflexivo.

Como se locomover
Pode-se, também, alugar bicicletas, locar carros e até mesmo cavalos, para explorar os quase 164 km2 da ilha. Algumas empresas locais vendem roteiros variados que incluem desde visitas aos principais ahus, ao Orongo, praia de Anakena, o vulcão Rano Kau com seu parque petroglífico, mergulhos, caminhadas em trilhas, até passeios de barco pela parte sul da ilha, em torno das ilhotas Motu Iti e Motu Nui.


Também há táxis na ilha, mas o preço da corrida é combinado antes ( não há taxímetro) e costumam ser, em geral, os mesmos para cada lugar. Uma corrida de Hanga Roa para a praia de Anakena, por exemplo, custa em média 20 dólares. No Orongo e no Rano Kau cobra-se entrada dos visitantes. Os demais lugares podem ser visitados livremente, inclusive as várias cavernas (chamadas de ‘ana’), sendo as mais famosas Ana Kai Tangata e Ana Kakenga (ou “Dos Ventanas”).
Outros pontos de interesse ao turista incluem a curiosa igreja católica de Hanga Roa (com suas características sincréticas) e o Museu Antropológico Padre Sebastián Englert, pequeno, mas que dá ao visitante um visão geral da história da ilha, além de abrigar um olho de moai genuíno e um pequeno moai com traços femininos (muito incomuns, já que a grande maioria tem traços masculinos).


Gastronomia
A culinária típica nativa baseia-se em pratos de peixe e frutos do mar, mas o visitante tem a seu dispor uma ampla variedade de cardápios. Na ilha fala-se o espanhol e o dialeto rapa nui, mas em geral o inglês é facilmente compreendido, e mesmo o português, reflexo do aumento do interesse do turista brasileiro por esse lugar, que tem a tradição de ser o mais remoto do mundo com acesso mais fácil.
Visitar Rapa Nui, enfim, é uma experiência única e inesquecível, um lugar ímpar que agrada aos mais diversos estilos de turismo e viagem, um mundo à parte do mundo, que recebe o visitante de braços abertos, com colares de flores e conchas, sorrisos e cordialidade. A primeira palavra que você provavelmente ouvirá, ao chegar na Ilha da Páscoa, é “Iorana” (Seja bem-vindo, em idioma rapa-nui).
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