De quem é a responsab ilidade pelos animais abandonados nas ruas? Este debate é abordado na reportagem que o colaborador Roberto Crispim escreveu, para a Página de Bem-Estar Animal, publicada toda terça-feira no Caderno Regional do Diário do Nordeste. Confiram:
Crato. Mesmo sem números oficiais, uma vez que diversos municípios do Ceará não realizam o Censo Animal, estima-se que haja cerca de 10 mil animais domésticos (cães e gatos), perambulando pelas ruas e avenidas dos 28 municípios que formam a macrorregião do Cariri. A estimativa revela a falta de políticas públicas desenvolvidas pelas gestões municipais, em desobediência a legislações ambientais pertinentes ao assunto.
A Lei de Crimes Ambientais (9.605/98), prevê em seu Art. 32: “praticar ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos; pena – detenção de três meses a um ano , e multa”. A pena deste artigo, aumenta de 1/6 a 1/3 no parágrafo 1º, se o animal vier a morrer. A pena de multa está regulamentada pelo Decreto Federal nº 6.514, de 22 de julho de 2008, que no Art. 29, estabelece uma multa de R$ 500,00 a R$ 3.000,00, com acréscimo de R$ 300,00 por indivíduo (animal).
No Cariri, apenas o município do Crato detém local para acomodação de animais recolhidos. Há o Centro de Zoonoses do Cariri, responsável pelo acompanhamento de casos de abandono registrados em toda a região. “Falta boa vontade por parte das gestões públicas. Os prefeitos, secretários municipais e, até mesmo, algumas entidades protetoras, encaminham as demandas para cá, como se apenas nós da Zoonose tivéssemos obrigação no trato desses animais”, desabafa o diretor do órgão, Ricardo Pierre.
Segundo ele, somente na última semana o Centro de Zoonoses recebeu cerca de 20 ligações telefônicas, oriundas de municípios da região, solicitando o recolhimento de animais errantes. “Aqui chegam cerca de 30 animais por semana. Só na semana passada foram ligações de Nova Olinda, Várzea Alegre, Caririaçu, Milagres e Penaforte, solicitando captura de animais. É impossível atender a todos os municípios”, avalia.

Para o veterinário a questão não é financeira. “Não faltam recursos. Falta interesse”, afirma. Para o profissional, qualquer município poderia contar com postos de recolhimento e de proteção a animais vítimas de abandono. “Qualquer prefeito pode muito bem buscar, junto a Fundação Nacional de Saúde, recursos para a construção de canis e gatis. No próprio endereço eletrônico do órgão é possível verificar projetos para tal finalidade, inclusive com projeção para a densidade demográfica de cada município”, informa.
Ele observa, ainda, que no caso dos municípios onde não há cumprimento à legislação, prefeitos podem vir a ser punidos. “A lei estabelece o cuidado destes animais também aos municípios. Qualquer gestor municipal que estiver descumprindo o que a lei determina pode sim responder judicialmente pelo não cumprimento à legislação”.
Para a presidente da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa), em Fortaleza, Geuza Leitão, os proprietários de animais domésticos também precisam dividir, junto com as gestões municipais, a responsabilidade de melhor cuidar de seus animais. Embora admita que a política de proteção animal não venha sendo cumprida pelas prefeituras, ela avalia que a quantidade de animais abandonados também é fruto da falta de responsabilidade de criadores.
“A Lei, no papel, é muito bonita. Na prática é difícil de ser observada. Claro que os municípios deveriam cumprir a legislação e estabelecer mecanismos de guarita aos animais abandonados. Porém, é bom lembrar que estes animais que circulam pelas ruas e avenidas das cidades, muitas vezes, são fruto do abandono de seus verdadeiros guardadores”, observa.
Na sua avaliação, muitos proprietários de animais desconhecem as normas da posse responsável. “Animal não é brinquedo. É um ser que precisa de carinho, zelo, proteção, amor e cuidado. Porém, muitos proprietários adquirem seus cães e gatos como se estes fossem utensílios que, após um determinado período, podem ser descartados”, avalia.
Geuza, que já chegou a ter em sua casa cerca de 100 animais, entre cães e gatos, adverte que uma das soluções para a diminuição do abandono é o controle de natalidade. “Se os criadores realizarem a castração em seus animais, claro que o número de cães e gatos abandonados vai diminuir”. Ela, no entanto, reconhece que o valor do procedimento é inacessível para famílias de baixa renda.

Para Angélica Donato, voluntária da Associação de Proteção à Vida (Aprov), do Crato, governos municipais e criadores precisam assumir a responsabilidade no bem-estar dos animais vítimas do abandono. “Não há como diminuir o número de animais vitimados pelo abandono sem que aja a participação do criador e, também, dos gestores públicos”, salienta.
Segundo ela, a Aprov possui hoje cerca de 50 animais, recolhidos em sua sede, vítimas do abandono e da ausência de políticas públicas das gestões municipais. “Já chegamos a cuidar de um número maior de animais. Graças às campanhas de adoção, realizadas pela entidade, e a boa vontade de algumas pessoas, reduzimos este número. No entanto, a cada dia percebe-se o aumento de animais vitimados e que passam a perambular pelas ruas do Crato e cidades vizinhas, devido a pouca responsabilidade de proprietários e gestões”, severou.
Eutanásia somente após laudo laboratorial
Após reunião com entidades de proteção animal, Secretaria de Meio Ambiente do município do Crato e profissionais veterinários, a direção do Centro de Zoonoses do Cariri decidiu não mais receber animais domésticos, oriundos de outros municípios, que não estejam acompanhados de laudo laboratorial confirmando doenças terminais ou leishmaniose visceral, também conhecida como calazar. Conforme o diretor da unidade, Ricardo Pierre, a decisão visa fazer com que prefeitos municipais atentem para a necessidade da criação de canis/gatis nas sedes dos municípios da região, diminuindo o número crescente de animais recolhidos pelo órgão local.
“O Centro de Zoonoses não é matadouro. Aqui nós cuidados de questões de saúde pública. Também não possuímos condições de infraestrutura suficiente para atender a todos os municípios da região que, insistentemente, deixam de cumprir a legislação e nos solicitam o recolhimento de seus animais”, frisou.

Segundo ele, além dos prefeitos e secretários de saúde dos municípios vizinhos, populares também deixam seus animais no local, esperando que o órgão destine tratamento aos animais. “Semanalmente recebemos cerca de 30 cães e 50 gatos. Não há condição de acomodação. Se esperam que tratemos do assunto realizando eutanásias de forma discriminada estão muito enganados”, severou o médico veterinário.
Atualmente, apenas cães e gatos com comprovação laboratorial para doenças terminais e leishmaniose são encaminhados à eutanásia. “Somente após a verificação laboratorial é que há autorização para o procedimento”, informa o diretor. Segundo ele, a decisão em não receber animais de outros municípios que não detenham de doenças comprovadas dá-se pela falta de infraestrutura para acomodação dos animais. “O Centro precisa de uma reforma imediata. Não há espaço para atender a todos os municípios. Quase não conseguimos atender ao município do Crato”, diz.
O veterinário promete levar a situação ao conhecimento da Microregional de Saúde e ao Ministério Público local. “Vamos provocar os órgãos competentes para que os municípios vizinhos cumpram a legislação e para que o Centro de Zoonoses não seja sacrificado”. Ricardo Pierre informou, ainda, que nos casos que demandam a realização da eutanásia, o procedimento é realizado sem que haja sofrimento ao animal. “Nenhum animal passa pela eutanásia sem que antes seja ministrada a anestesia. Somente após verificação da eficácia do anestésico é que ministramos o cloreto de potássio”, garantiu.
Os procedimentos são realizados as sextas-feiras, pela manhã, e acompanhados por representantes de entidades protetoras dos animais, com sede no município.
Mais informações: Centro de Zoonoses do Cariri, (88) 3521-2698
Associação de Proteção à Vida (Aprov) (88) 8845.3542
União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), Geuza Leitão, (85) 3261-3330
Comentários 3
Valéria Feitosa
18/05/2015 as 18:22Olá, Ademir! Infelizmente, os poderes públicos estão omissos para o problema do abandono dos animais. Nas várias cidades com este problema é a própria sociedade civil organizada, por meio das ONGs de proteção animal, que faz a proteção dos animais. Veja na sua cidade alguém de bom coração que pode dar um abrigo para esta pobre cadela e seus filhotes. Boa sorte!
Ademir Cecílio
15/05/2015 as 09:24Aqui na minha cidade tem muitos cachorros nas ruas e ninguém do poder público toma providência tem uma cadela parida na Praça da minha cidade no Centro que morde as pessoas que passa por perto.ja falarão de matar ela eu interferir contra a morte dela oque eu devo fazer para o poder público cuidar desses animais que aqui está abandonados?
João
12/03/2013 as 13:38Publiquei na minha página sobre animais no facebook: http://www.facebook.com/euamoosanimais.iloveanimals
Quem quiser curtir a página pode ficar à vontade.