Leiam o artigo abaixo, de autoria do engenheiro agrônomo e pesquisador Alfredo José Barreto Luiz, dos quadros da Embrapa Meio Ambiente:
“É cada vez mais frequente encontrarmos textos satanizando os agrotóxicos, principalmente nas redes sociais. Todos procuram dar uma certa aparência de “verdade científica” aos argumentos, mas, na realidade, estão quase sempre cheios de erros, preconceitos ou conceitos equivocados.
Se bem recomendados e aplicados, os agrotóxicos são para as plantas muito semelhantes ao que os medicamentos são para os humanos. Embora possam ter efeitos colaterais, são pensados para curar os vegetais cultivados e não para causar efeitos colaterais. O Brasil é grande usuário de agrotóxicos (que em outros países são chamados de pesticidas, pois se destinam a matar as pestes e não a serem tóxicos para o ‘agro’) por causa do clima tropical e da grande área plantada. Nos países de clima frio, durante o inverno há um controle natural das pragas, doenças e plantas invasoras que prejudicam a produção agrícola. Isso não ocorre no nosso clima tropical.
A afirmação de que nós brasileiros, consumidores de produtos agrícolas, ingerimos cinco litros de agrotóxicos por ano, é totalmente falsa. Esse é o volume total de agrotóxicos aplicado sobre toda a área cultivada brasileira ao longo do ano, simplesmente dividido pela população. Nesse cálculo entram todos os produtos aplicados na cana-de-açúcar destinada à produção de álcool, por exemplo, produto que não é ingerido por nós, humanos. E a cana é a segunda cultura em área no Brasil. Também entram todos os agrotóxicos aplicados na soja exportada, que não é ingerida por nós, portanto. E tudo que é aplicado nas seringueiras, cultivadas para produção de látex, e nos eucaliptos e pinus destinados à produção de celulose e papel, nas demais essências florestais etc.
Mais importante que isso é que os agrotóxicos trazem no rótulo uma informação sobre o prazo de carência; o que é isso? É o prazo que deve ser respeitado entre a última aplicação do produto e a data da colheita (especialmente importante no caso de produtos alimentícios). Esse prazo é calculado para que as substâncias químicas ativas dos agrotóxicos já tenham se transformado em outras (pela ação da temperatura, luz, umidade etc.), restando em quantidade tão reduzida e diluída que não oferece mais perigo. Se essa instrução for seguida, nenhuma quantidade significativa de agrotóxico chegará às mesas dos consumidores.
Além disso, da quantidade aplicada sobre uma área, apenas uma pequena fração atinge a parte da planta que vai ser ingerida. Por exemplo, um dos agrotóxicos mais consumidos é um herbicida aplicado na área de soja, a cultura de maior área plantada no Brasil. Os herbicidas são utilizados para controlar as outras plantas que surgem no meio do plantio da soja e competem com ela por luz, espaço, água e nutrientes, prejudicando o desenvolvimento da cultura e atrapalhando enormemente o manejo da mesma, principalmente a colheita. Pois bem, boa parte dessa quantidade enorme de agrotóxicos é aplicada no período inicial do crescimento da soja, bem distante no tempo da colheita dos grãos.
Os herbicidas são usados nos plantios florestais, em cana e, mesmo os aplicados em culturas de produtos comestíveis, seguem o padrão de aplicação na soja, ou seja, a maior parte é aplicada nos estágios iniciais das culturas, longe da época da colheita. E, segundo os últimos oficiais dados disponíveis, de 2013, do total de agrotóxicos consumidos no Brasil, os três mais vendidos eram herbicidas, que sozinhos representaram 50,7% do total comercializado no país naquele ano.
Muito do que se diz sobre agrotóxicos é mentira e prejudica o debate saudável e necessário sobre o tema. Realmente, existem problemas nessa área e graves. O primeiro é o contrabando de produtos. Isso prejudica economicamente o país, além de moralmente todos os envolvidos. Esse comércio ilegal permite a ação de máfias, sempre ligadas a outras formas de crime e corrupção, além de ocorrer à margem de todos os controles, facilitando a existência de produtos falsos, vencidos, não eficientes etc.
Outro problema é a não observância das recomendações para aplicação dos produtos. Dentre as inobservâncias, a mais perigosa é para as pessoas que aplicam os produtos (muito mais expostas que os consumidores). Os trabalhadores envolvidos na aplicação desses produtos devem usar rigorosamente os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), conforme indicado nos rótulos dos produtos. Infelizmente isso não é cumprido em muitos casos, prejudicando a saúde dos aplicadores, chegando a causar a morte.
Outras ‘desobediências’ das normas se dão quanto a quantidade aplicada, o intervalo entre as aplicações, no prazo de carência antes da colheita (principalmente em algumas frutas e hortaliças, cuja colheita se estende pelo tempo, como morango e tomate), na regulagem do equipamento de aplicação, na mistura não recomendada de produtos, na aplicação de produtos não recomendados para a cultura em questão etc.
Isso sim deveria ser muito mais discutido pela sociedade. É como o caso de medicamentos falsos, contrabandeados, vendidos sem receita, utilizados na quantidade e frequência erradas etc. O problema não está no medicamento, mas no uso que é feito dele. E não se vê uma campanha contra os medicamentos humanos por causa dos problemas no seu uso. Também não são os agrotóxicos os vilões. O problema é o seu mau uso.
Por fim, da mesma forma que existem problemas com a concentração da produção de medicamentos humanos nas mãos de grandes multinacionais, que devem ser discutidos e enfrentados com leis que facilitem o acesso da população aos medicamentos essenciais, como o Brasil tem feito de maneira exemplar para o mundo (o caso dos remédios para a AIDS é o melhor exemplo), os agrotóxicos têm sua produção concentrada nas mãos de algumas multinacionais e, nesse caso, também deve haver um enfrentamento no interesse da população para baratear os custos da utilização (o preço alto está raiz do contrabando, inclusive).
Mas, condenar o remédio não cura a doença! Devemos esclarecer o assunto, e não confundi-lo, para realmente enxergar os verdadeiros obstáculos e ultrapassá-los. Enquanto ficarmos produzindo mais calor e ruído, apenas criando atrito e não resultando em trabalho, estaremos fazendo o que querem aqueles que são contra os interesses da maioria da população e nacionais (afinal somos um grande e eficiente competidor internacional na produção de matéria prima agrícola)”.
Comentários 18
Marcos Aurélio Santos Andurand
19/08/2019 as 16:31Sou Engenheiro Agrônomo formado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Excelente depoimento. Uma pena que matérias tão esclarecedoras, iguais a essa, quando se trata de alimentação, não são divulgadas na imprensa televisiva! No horário de maior audiência, no lugar de novelas, que não acrescentam nada, ou até em debates num Jornal Nacional, por exemplo, seria muitíssimo importante expor essas explicações, por pessoas da área, que vivem estudando e pesquisando. Parabéns pelo texto.
Vitor A Vellar
09/11/2015 as 19:26Orgânicos sāo produzidos em baixa escala (agricultura de subsistencia) A agricultura que mata a fome do mundo que é a industrial que nāo produz se nāo usar pesticida, esses que sāo contra uso de pesticidas e defendem organicos nāo entendem nada de lavoura e nem agradecem as 4 refeições que fazem por dia a aqueles que trabalham de sol a sol para que tenham essa benece a um custo baixo. Exelente matéria do autor.
Jaime Roberto Bendjouya
09/11/2015 as 11:19Apenas um alerta aos que acham que consumir os ditos “produtos orgânicos”.
O que os defensores da chamada agricultura ecológica ou orgânica não falam, pois “não interessa” é que o risco aos consumidores em razão principalmente por contaminação de bactérias e fungos passíveis de estarem presentes em “orgânicos” é tremendamente elevada, posto que não são utilizados fungicidas e bactericidas. Além disso o uso dos chamados fertilizantes orgânicos provocam contágios com coliformes fecais, por exemplo…
ENGº AGRº JORGE DOTTI CESA
08/11/2015 as 22:14Infelizmente assim como muitos satanizam os agrotóxicos de forma muitas vezes exagerada, o autor do artigo minimiza o problema de forma parcial. Comparar agrotóxicos com medicamentos para humanos é de um absurdo. Medicamentos só podem causar problemas para que os usa, enquanto agrotóxicos podem ser danosos para quem usa para quem consome os alimentos produzidos com eles e para todo meio ambiente.
Entre as duas visões, ainda prefiro aquela que alerta a população pelos problemas que podem ser causados pelos agrotóxicos.
Melhor prevenir do que remediar.
Eduardo
07/11/2015 as 18:59Nossa como tem gente entendida no assunto falando aí. Se não fossem as pesquisas e desenvolvimento na agricultura a população mundial já estaria as minguas passando fome.
Nivaldo
06/11/2015 as 14:06Muito bem esclarecido, acho que muitos antes de comentar sobre o assunto deveria se informar melhor, e tambem comentar que grande parte do problema realmente são os vendedores ambulantes que tentam vender seu peixe e recomendar muito produto que não tem nada a ver com a necessidade do produtor e acabam iludindo o mesmo a adiquiri-lo. Então aí que vem a parte do produtor também se informar melhor com a assistência técnica primeiro e não usar qualquer coisa que aí sim pode prejudicar o consumidor depois. mas parabenizo este profissional pelo esclarecimento ( da realidade dos efeitos dos agrotóxicos).
clever
05/11/2015 as 21:20Não é por acaso que a maior parte de quem compartilhou esse material foram defensores dos agroquímicos e agricultores patronais (ao menos em minha timeline do face).
É claro que sabemos que há uma grande diferença entre o o uso adequado dos agrotóxicos e o uso irresponsável. No entanto, mesmo assim (quando responsável), é dar um atestado de “burrice” ignorar os danos causados à saúde humana e ao meio ambiente.
O uso incorreto é amplamente praticado e falta fiscalização, um grande exemplo é o uso de secantes não recomendados para a cultura do trigo, exatamente na cultura do trigo, no RS. E os resíduos?
Também existem muitos dados díspares quanto ao período de carência das moléculas utilizadas.
Tapar o sol com a peneira em detrimento à saúde e benefício às multinacionais e a área de pesquisa do autor: essa é a razão desse texto razo.
José Manuel Fonseca
02/11/2015 as 07:11Acredito q esses defensivos agrícolas são um mal necessário p/ a sobrevivência de toda população humana e animal do planeta. Tenho testemunhado durante os 42 anos q trabalho c/ esses produtos uma evolução significativa em relação ao menor potencial de dano p/ o meio ambiente e p/ a saúde humana. Acredito q essa tendência deve continuar no futuro c/ o lançamento de novos produtos menos ofensivos e o banimento daqueles q apresentarem efeitos colaterais mais danosos.
Sidinei Andre Reinehr
01/11/2015 as 11:50Acredito que o engenheiro agrônomo e pesquisador Alfredo José Barreto Luiz foi muito feliz na publicação do seu artigo, principalmente para esclarecer muitas dúvidas as pessoas leigas sobre o sistema fitosanitaria de proteção de cultivos, pelo qual usado de forma racional, muito tem a ajudar a suprir a demanda mundial de alimentos, ou seja, alimentar população que passa fome……acredito que pessoas que falam de alimentação orgânica, são aquelas que olham somente para só mesmo e acham qua agrotóxicos são o fim da humanidade….mas tenho a certeza qua essas pessoas não são capazes de ter uma horta em casa, acho ainda q tais pessoas qua só comem orgânico deveriam abrir mão da civilização, deixar esse mundo capitalista de lado e ir morar no meio do mato e sobreviver disso…. Deixar de andar de carro, pois o ar que respiramos está contaminado principalmente pelo CO2 que é liberado, deveria andar somente de bicicleta ou a pé, produzir seu meio de sobrevivência no meio rural, duvido que seja capaz de tal feito…..se for capaz disso deveria ainda produzir muito alimento orgânico para ajudar a alimentar as pessoas que estão passando fome….., pois de maneira geral comprar somente produtos orgânicos é muito fácil para quem tem uma situação financeira privilegiada e se julga um bom caráter em alimentação..!!!
Luis Antonio Lemos
01/11/2015 as 09:24Eu, o Epi ,e uma Obrigacao do funcionario ,e uma PrevenSao, Tem gente que com todos Prevensao morre das Doencas, Ninguem Sabe o que ,E nem os Medicos Enventa uma Causa no Testado Obto, Isto e da vida ,as Pessoas nasce morre qdo Determinado Por Deus. E igual na Vida Vai duas vezes ao Mediico faz Prevencao ai veem a Dienca a Pessoa Morre cade o medico que fez toda prevensao e Paciente fez que o medico mandou qual e a Desculpa Ele era velho cinquenta ano, Determinacai de Deus. NAO TEM FISCALIZACAO TUDO FAJUTA NO BRASIL DEPOIS QUE MORRER VAO FISCALIZAR TINHA QUE SER ANTES DO ACONTECIDO,Tem uma Desculpa nao tem Mao de Obra, So para o Governo Pegar Dinheiro Tudo So no Papel.
Volneimar Lacerda de Oliveira
01/11/2015 as 08:22Quero deixar aqui os meus PARABÉNS, pela explanação lógica sobre os PESTICIDAS aplicados na lavouras Brasileiras, ao engenheiro agrônomo e pesquisador Alfredo José Barreto, membro do corpo de pesquisa da EMBRAPA, entidade de pesquisa desvinculada de interesses particulares, ou seja os pesquisadores da EMBRAPA, depois dos crivos que o registro de um pesticida passa quando de seu registro – MAPA, ANVISA, MIN. SAÚDE – são os profissionais responsáveis em validar muitas tecnologias ( Pesticidas ) a campo.
Obrigado e que a população compreenda essa explicação.
Jaci
01/11/2015 as 02:32Bom texto. Os agrotóxicos causam danos sim, se usados de forma incorreta estes males se agravam. Mas, é utopia acreditar que se possa plantar na proporção que plantamos sem o uso dos mesmos. Não sou contra o produto com zero agrotóxicos, mas para este ir pra mesa de cada brasileiro só se cada brasileiro plantar seu próprio alimento, e isto meus caros, nós sabemos que não vai acontecer. Só para descontrair: Sem agrotóxicos = orgânico; com agrotóxico = alimento sintético?! =D
José Luiz
31/10/2015 as 19:31Quanta BOBAGEM, quanta desinformação, quanto oportunismo tendecioso !!!! Nossos pseudo cientistas estão cada vez piores. Na impossibilidade de defender o indefensável deveria calar-se a falar tantos SE isso SE aquilo, tremenda falta de conceitos ambientais básicos. Péssimo texto e péssima argumentação.
Vilson Ambrozi
31/10/2015 as 12:06Não sei se foi bom ,porém foram os agrotóxicos que permitiram a intensa urbanização da humanidade a partir do seculo xx,tambem permitiu que o planeta abriga-se esta enorme população. Bem,de minha parte agradeço porque sem eles talvez não existisse.
Hermes de Paula
31/10/2015 as 08:33O grande problema dos defensivos agrícolas no Brasil é a recomendação…esta não existe! Que hoje faz isso são os vendedores, que so querem vender e bater suas metas. Falta um trabalho sério de fiscalização e valorização do agrônomo para recomendar certo e se responsabilizar pelo que recomendou.
Armistrong Souto
30/10/2015 as 19:26Pelo fim dos venenos na produção agrícola do Brasil, e do mundo! Agrotóxico é eufemismo para veneno.
FRRANCISCO MOURA DE FREITAS
30/10/2015 as 18:53A população brasileira,merece ser esclarecida sobre tão importante assunto.Parabenizo o colega Alfredo José Barreto Luiz pelo texto explicativo publicado. Espero que o colega mantenha uma sequencia sobre tão importante assunto,evitado que a população seja manipula,por quem não tem compromisso coma verdade.
FJT de Santana
30/10/2015 as 18:18A julgar pelo que diz o especialista tudo são flores então. Resta saber se o especialista é especializado em agronomia ou em herbicida. Pessoalmente, achei totalmente irresponsável a presunção de que são como remédios para os seres humanos. Ate porque remédios também fazem muito mal aos seres humanos e não so curam ou remediam. Também não entendi a salda feita com a AIDS. Ou a propaganda comunista, ou governista, pela distribuição desses medicamentos. Last, but not least: a soja é exportada e portanto danem-se que for envenenado no exterior. Se assim é que pensa então não acredito muito no que falou. De qualquer sorte eu como mesmo é orgânico.