
A capacidade de flexionar a carapaça e assumir o formato de bola deveria funcionar como mecanismo de proteção para o tatu-bola, mas ao invés disso, o torna muito mais vulnerável à caça do que os outros tatus, pois ele não foge diante da ameaça dos caçadores. Ele também é bastante vulnerável às mudanças climáticas e ambientais, e estudos sobre a espécie são escassos. Por isso, a pesquisadora cearense Liana Sena, bióloga formada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), doutoranda pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), resolveu estudar o Tatu-Bola-do-Nordeste (Tolypeutes tricinctus) e identificar o impacto da caça ilegal sobre a espécie.
“Os tatus são animais extremamente presentes na cultura brasileira, principalmente no Semiárido nordestino, muito devido à caça e à agricultura. Apesar disso, são animais pouco estudados, mas que exercem funções importantes para o ambiente, como a atividade escavadora, essencial para manutenção de solos férteis”, explicou a pesquisadora.
O projeto “Usando modelos de ocupação para investigar uso do habitat do tatu-bola e sua vulnerabilidade frente à caça ilegal” foi contemplado, em novembro passado, com um financiamento da Fundação Rufford, instituição no Reino Unido que apoia 4.276 projetos de conservação da natureza em 157 países em desenvolvimento.
Os objetivos do estudo são investigar a pressão de caça sobre a espécie e estimar a efetividade dos remanescentes florestais de Caatinga em manter populações viáveis no presente e no futuro. Os resultados serão usados para sugerir áreas prioritárias para a conservação da espécie na Caatinga, revelar lacunas de proteção em outras áreas de ocorrência e subsidiar ações de manejo e conservação.
Mais conhecido por ter sido o mascote da Copa de 2014, graças a campanha da Associação Caatinga, ONG com à qual Liana já colaborou, o Tatu-Bola-do-Nordeste consta na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção na categoria “Em Perigo” (EN). É a única espécie de tatu endêmica no Brasil e foi contemplada no Plano de Ação Nacional para a Conservação do Tatu-bola elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)/Ministério do Meio Ambiente (MMA) em 2014, que tem duração de cinco anos.
De acordo com Liana Sena, a principal causa apontada para a ameaça de extinção do tatu-bola é a caça: “por isso, o projeto incorporou a dimensão humana na pesquisa aplicada à conservação, como ferramenta para entender a influência de fatores socioeconômicos e culturais na caça de subsistência e captura ilegal do tatu-bola. Essas informações são cruciais para entender conflitos e a relação humano-fauna silvestre, e construir estratégias mais eficientes e realistas de intervenção e conservação”, esclareceu.
O tatu-bola ocorre em todos os estados do Nordeste e no Tocantins, Minas Gerais e Goiás, sendo encontrado predominantemente na Caatinga e em algumas áreas do Cerrado. No Brasil há uma outra espécie de tatu-bola, Tolypeutes matacus, que possui registros no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, sendo mais comum na Bolívia, Paraguai e Argentina.
A pesquisa vem sendo desenvolvida no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, onde encontra-se a maior concentração de sítios arqueológicos atualmente conhecida nas Américas. A Unidade de Conservação foi fundada em 1979 e em 1991 foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Com informações do Site o((eco))
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