Quiterianópolis
Centenas de quilômetros de beleza, e de angustia. Esse foi o resultado incongruente do relatório elaborado pelo especialista em Gestão Pública e Conservação de Arte Rupestre, Rubens Luna, sobre a “Expedição do Poty”, realizada no último fim de semana no Rio Poti, da sua nascente, em Quiterianópolis, no Sertão do Ceará, até a sua foz, no estado do Piauí, onde desagua no Rio Parnaíba, em Teresina. O despejo de esgotos no seu leito é um problema, mas o mais grave deles é a exploração de ferro e de ouro. O risco eminente só desaparecerá com a interdição da mineradora existente e o combate à garimpagem ilegal.

Durante três dias, o grupo, formado na sua maioria por representantes do estado vizinho, percorreu mais mil quilômetros de estradas e pelo menos 200 do leito do Poti, deslumbrando e ao mesmo tempo preocupando os participantes. Muitos trechos do afluente ainda estão conservados. Por onde a Expedição passava, além da excelente acolhida, os gestores públicos e a população demonstravam interesse na conservação da veia hídrica em suas regiões. Mas noutras áreas foram notadas explorações de minério, de ferro e de ouro, esta última inclusive clandestina, ambas no município de Crateús. Assim como a nascente, em Quiterianópois, o curso do rio que corta aquela terra precisa de cuidados imediatos.
A melhor forma de evitar a degradação é a criação de áreas de preservação ambiental. O pensamento foi o mesmo em todas as cidades por onde passou o grupo formado por representantes da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Companhia de Desenvolvimento do Vale do Rio São Francisco e Parnaíba (Codevasf), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Museu Taxidérmico, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e da Prefeitura de Teresina. Além de Quiterianópolis e Crateús, os expedidores percorreram também Juazeiro do Piauí, Castelo do Piauí, Buriti dos Montes e Teresina, já no Estado vizinho.
Um exemplo está na comunidade de Oiticica, na entrada oeste do boqueirão do Poti. Naquela área, a qual corresponde ao alto cânion do rio, foi proposta a criação de uma unidade de conservação permanente, a ser gerida pelo Governo do Ceará. Mais ou menos uns 6 km rio abaixo, já em terras piauienses, está situado o sitio paleontológico conhecido como “Jardim dos Trilobitas”, onde são encontrados rastros de animais que viveram ali há milhões de anos, além de dezenas de gravuras rupestres. Devido a tal fato, aquela é outra área de interesse preservacionista.
Em Crateús, onde foram encontrados os principais problemas no lado do Ceará, dentre eles o desmatamento, a exploração de minérios, lixo sólido depositado nas margens e o lançamento de efluentes sem tratamento, o relator enfatizou que o município cearense conta com 60% de saneamento básico, enquanto Teresina possui apenas 17 % de esgotamento sanitário. A Prefeitura de Crateús também se empenha na criação de uma Unidade de Conservação, o Parque Ambiental Cavalheiros da Esperança.
Esses assuntos foram discutidos na Secretaria do meio ambiente de Crateús, onde foi realizada umas das audiências públicas programadas na Expedição. O prefeito Mauro Soares coordenou os trabalhos. No Encontro ele ressaltou que nasceu na comunidade Oiticica, no coração do cânion do Poti. O gestor municipal reconheceu os problemas e reiterou empenho na busca de soluções, dentre elas a criação de um parque ambiental entre as comunidades Ibiapaba e Oiticica, a recuperação de áreas degradadas e a viabilização de acesso ao cânion pelo seu Município.
Ainda conforme Rubens Luna, coordenador da “Expedição do Poty”, durante o trajeto por todo o rio, foram registradas mais de 50 lendas e histórias fantásticas, narradas pelos ribeirinhos. Esse conteúdo deverá servir como o cerne do manuscrito que está sendo redigido por ele. A obra literária da história oral terá como objetivo a preservação desses causos e o conhecimento, principalmente pelas futuras gerações.
A missão, realizada pelo Instituto CO2 Zero, teve como objetivo prospectar áreas com potencial para a criação de Unidades de Conservação, em especial, na nascente e na região do cânion do rio e também a realização de audiências públicas nas cidades de Buriti dos Montes (PI), Crateús e Quiterianópolis (CE). Foram ouvidas as demandas da sociedade local em relação às questões ambientais, bem como elaborado o esboço para a formação de uma agenda comum entre os dois estados, Governo Federal e sociedade civil, como mecanismo de produção de uma política preservacionista democrática e participativa para toda a bacia do Rio Poti.
Opinião do Especialista
Rubens Luna
Especialista em Gestão Pública e Conservação de Arte Rupestre
rubens.luna@gmail.com
“É imperativo preservar! Centenas de milhares de pessoas compartilham o dia a dia nalgum ponto da magnífica bacia hidrográfica do rio Poty, aproximadamente, 52.000 km, seja no seu alto, médio ou baixo curso, outra característica peculiar é que seja ecotonal, um embrincamento de biomas, mais ao leste temos a caatinga e o carrasco, mais a oeste temos o cerrado, a mata de cocais, por fim, uma vegetação pré-amazônica, por assim dizer. Assim, por está situada no nordeste do Brasil, tem esta bacia sofrido, sobremaneira, com o aumento da escassez da oferta hídrica, segundo os estudiosos, para esta região, a tendência será o aumento e intensidade do ciclo de seca, redução ainda mais do volume de chuvas. Tais fatos põem em risco a qualidade de vidas destas populações, ainda mais devido ao uso indevido do solo e em especial da água, que o modelo atual de desenvolvimento emprega. Portanto, caso não alteremos tais procedimentos predatórios, em pouco tempo, haveremos de evacuar grande parte da população ali residente. Daí a imprescindibilidade de investirmos numa política social e ambiental que aproveite os recursos naturais, porém, preservando para os que advirão”.
Mais Informações
Instituto CO2 Zero
Av. W3 Sul Quadra 502 Bloco C Loja 37 Asa Sul – Brasília
Telefone: (61) 3221-1039
contato@co2zero.eco.br
Veja as reportagens no Diário do Nordeste > Exploração de minério e esgoto são principais riscos para rio Poty e Sítio arqueológico tem valor inestimável como patrimônio
Fotos > Juscelino Reis
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