
A curiosidade acompanha os meus passos durante todo o meu trabalho e é ressaltado principalmente quando sou estreante em algo específico da minha profissão, como presenciar pela primeira vez um evento de MMA. É completamente diferente de assistir pela televisão. Quando estamos no conforto de casa, o sofá acalenta o corpo e os intervalos entre as lutas por vezes faz o sono chegar quando não queremos. O contrário acontece ao vivo, o calor do momento faz o público esquecer que existe um tempo entre cada embate e entre o card preliminar e principal. Tudo é tão intenso que o tempo voa e o sono mal aparece, no máximo um cansaço por ter trabalhado o dia inteiro e estar desperto na boca da madrugada.
Não sei qual o visual dos outros eventos pelo Brasil, mas diferente dos campeonatos cearenses que estou acostumada a presenciar, as camisas não separavam as arquibancadas no Ginásio Paulo Sarasate. Nada de alvinegros e tricolores, o público torcia pelo verde e amarelo. Quando ambos os lutadores eram brasileiros, o público apenas apreciava a técnica dos golpes no octógono que, pela primeira vez, era mostrada ao vivo fora da televisão no Nordeste.
Depois de levar alguns de seus lutadores para o Ultimate Fighting Championship (UFC), finalmente a capital cearense fez-se palco para receber de volta os seus talentos. Três subiram para conseguir vencer em casa, mas apenas dois conseguiram. O momento mais marcante foi de Rony Jason. Não foi a luta em si e, sim, a emoção que se fez presente antes, durante e depois da sua vitória.
Ao aparecer para o seu duelo, todos da arquibancada e das cadeiras marcadas colocaram-se em pé e gritaram o nome do cearense. Mesmo patrocinado pelo clube de futebol Fortaleza, todos aplaudiram por ele ser um de nós, um de nossa terra. Esqueceram qualquer rivalidade do outro esporte e fizeram barulho. Foi tão bonito quanto às homenagens costumeiras de torcidas organizadas, como naquele ápice o qual o bandeirão desce e rojões luzes são acesos por toda a arquibancada. A emoção foi a mesma.
Sem bola na rede
Durante todo o evento, comparei o comportamento das pessoas a um jogo de futebol. Posso dizer que preferi o público presente no UFC. Não houve brigas, confusões, nem ao menos uma sensação de que isso iria ou poderia acontecer em algum momento do dia. Na arquibancada, ao contrário do estádio no qual temos que implorar, discutir ou – alguns fazem – partir para a ignorância de pedir para se sentarem para os sentados atrás poderem ver, todos ficavam comportados em seus acentos. Quando alguém insistia em ficar em pé, um apenas pedia com delicadeza e logo era atendido.
Quanto a entrada e saída, bem antecedência é bom em qualquer circunstância para garantir uma boa vaga de estacionamento e um acento melhor posicionado. No entanto, no caso da saída, UFC é diferente de futebol. Não tem problema nos últimos minutos de acréscimo, pode haver um gol inesperado, mas pouco muda nos minutos finais de jogo. Porém, é impossível sair antes da luta terminar.
Primeiro: cada luta que acontece no evento é única e sair antes do fim é garantia de perder o prato principal da noite que, lógico, é deixado para o final. Segundo: não existe tempo cronometrado para terminar. Então, não vale a pena sair se a luta pode terminar no milésimo seguinte e pôr a perder a técnica de sair antes de terminar para garantir táxi ou nada de trânsito. Por isso, relaxe e aproveite todo o evento sem pensar no pós-luta. Senão, não terá compensado o alto investimento do ingresso se você sair antes de, por exemplo, tiver visto Werdum enfrentando o Minotauro.
Mesmo suado e com as pernas bambas, os vencedores da noite não podiam sentar e descansar. Todos eles tinham um caminho único: a sala de imprensa. Assim como eu, outros jornalistas deixavam o prazer de assistir da plateia do Ginásio para acompanhar as lutas pelo canal Combate e estar disponível quando os atletas adentrassem a área para as entrevistas.
Como uma presa indefesa, todos eles sofriam o bote dos jornalistas, que atacavam com perguntas e mais perguntas sobre a luta recém enfrentada de cada um deles. Ainda que esbaforidos e com o corpo latejando, todos respondiam de maneira simpática cada uma das questões apresentadas a eles. O primeiro ganhador da noite e estreante do UFC, Antônio Braga Neto, por exemplo, veio com um algodão no nariz e apenas com flashs da luta em sua memória. Quando questionado sobre por que lambeu suas luvas após vencer, ele riu e disse “Eu fiz isso”, com um humor que nem parecia ter lutados minutos atrás.
Estar presente nesse momento posterior a luta é participar da felicidade de cada um dos lutadores que, na sua maioria, oferecem a sua vitória às mães e namoradas, sempre de maneira muita emocionada e agradecidos. É poder ver de perto que os treinos, as dietas, tudo, valeu a pena por mais essa vitória. É conseguir ter a chance de dizer parabéns ou outras palavras que muitos torcedores gritaram de seus lugares no Ginásio.
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